Dance com malícia e suavidade!
Venha mulher adorável e dance suavemente e com malícia para o Poeta, requebre as curvas simples do seu corpo divino e o deixe encantado. Ondeie seus membros, arqueie o dorso, espalhe os cabelos, desnude-se em favor daquele que idolatra o amor.
Dê-lhe a meia-lua do seu ventre, o arco celeste dos seus ombros, seus seios agrestes empinados com bicos rosa e ávidos de toques. Curve-se em dança modulada, faça do seu corpo estrada e nela se lance no poema dele, aguçando o fluir de sua pena. Desse seu tributo ele colherá o mais sublime prazer e o transformará em seu melhor verso.
Dance e não descanse enquanto não espantar de seu corpo a febre que te domina, dos pés se tornarem doridos com esse louco rodopiar, de sua alma se sentir saciada dessa sede cálida que te devora e do seu coração realizar o desejo de se fundir a ele num simples beijo.
Não digas que esse meu pedido é enganoso, já que adivinhas a verdade nele existente na ponta aguda do meu olhar e na da minha pena, pois semeio os meus sentimentos ao vento e você nele colhe o reflexo de todos os meus segredos.
Sim, dance para mim em cada passo do meu verso. Faça de cada verso o seu corpo, de cada palavra contida na poesia o seu desejo e de cada desejo uma alva madrugada com nós dois presos na dobra do tempo.

CARLOS CUNHA