Doce devaneio
Prólogo: este enlevo aconteceu recentemente. Loira ou morena? Isto é de somenos importância. O doce devaneio aqui exteriorizado e materializado por palavras, quiçá insulsas, tem um tempero diferente: é a expressão de almas em conluio com espíritos em ebulição, em favor da luxúria, a cada dia crescente.

Ele não se via. Só conseguia enxergar, por olhar esconso e por via de um espelho transversal, gigante, que se encontrava na parede do quarto griséu a imagem angelical ainda a sua espera porque queria perpetuar o acme do gozo alcançado.

Ela ficou deitada, na cama, os loiros cabelos bastos, sedosos, esparramados pelos ombros delicados, escondendo o pescoço fino e longo, marcado pelos chupões da sacrossanta e doida lucidez consentida, perdida em devaneios melosos, soluçando feito santa.

Os braços, as mãos divinas, pequenas, com dedos longos, enfeitados por unhas vermelhas, caiam: uma à esquerda, ao lado das coxas alvas, outra à direita por sobre o ventre macio, chato, em uma tentativa inútil de cobrir o púbis que minutos antes, sôfrego, balbuciante, ele beijava enlouquecido. A pele ebúrnea, macia, perfumada, exalava sexo por toda a extensão trêmula.

As marcas de amor eram expressões da alma na fragorosa batalha da entrega mútua. Ecoavam aos seus ouvidos ora gritos, ora sussurros de súplicas por castigos atendidos.

Como uma canção de ninar os gemidos e soluços da amante assemelhava-se ao marulhar de um riacho encantado no doce devaneio que endeusava a figura inumana.

De sua (dele) face, que aspergia essência de limão verde, só restavam fragmentos desse cheiro "in natura" que sempre teve, pois num ápice mesclou-se aos corpúsculos do corpo perfeito, aspergindo um perfume raro de sabonete sobre os lençóis alvíssimos, em desalinho, enaltecido pelo doce devaneio transmissor de paz e segurança conquistados.

Wilson Muniz Pereira

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